8 de janeiro é momento de reflexão e não de euforia
Criaram um conceito: “democracia inabalada”. Para acreditar nele, primeiro é preciso acreditar que exista democracia inabalável, o que por si só já é algo, no mínimo, bastante distante da realidade brasileira. E, no máximo, algo utópico.
Não é verdade que a democracia restou inabalada. A democracia foi abalada, sim: basta ver a quantidade de pessoas que foram presas. E aqui não se pretende entrar no âmbito penal, visto que isso só seria legitimamente possível a partir da individualização de condutas, ânimos, culpas e responsabilidades, elemento sine qua non para um juízo equilibrado.
O que temos são prisões feitas no atacado e com exposições na mídia não muito diferentes, uma vez que, quase sempre, baseadas em grandes listas de personagens, com os mais diversos graus de envolvimentos e as mais variadas silhuetas psicossociais. O fenômeno político que culminou nos incidentes de 8 de janeiro é algo que deve ser objeto de reflexão, no campo eminentemente político. E de investigação, no campo judicial. E é aí que a coisa pega.
Parcialidades notórias, negativas de depoimentos, sonegação de informações, verborragias eleitoreiras, tudo isso é sinal de que se está longe de caminhar rumo ao esclarecimento total dos fatos. O “esclarecimento” segmentado e manipulado apenas demonstra que a democracia segue abalada. Se já não mais pelos que depredam prédios públicos, pelos que os habitam. E tudo sob a suspeita de haver personagens comuns aos dois grupos.