Do mito da caverna ao mito da edícula, para onde caminha a humana idade?

Publicada em 

27 de maio de 2024

às

12h20

Dia desses, em face de um artigo em uma revista jurídica eletrônica, postei o comentário que aqui transcrevo:
Pois bem: “Cidade sustentável é um conceito que prevê diretrizes para melhorar a gestão de uma zona urbana e prepará-la para as gerações futuras”.
Tenho cá minhas dúvidas quanto ao discurso da transgeracionalidade, pois entendo que o princípio da dignidade humana nos inclina, em verdade, à intergeracionalidade. Não vejo como excluir as gerações presentes da essencialidade da sustentabilidade. Que sejam benvindas as novas gerações, vamos preparar um mundo melhor para elas, mas não apenas para elas: também para nós, daqui a vinte, trinta, quarenta anos.
O diálogo intergeracional é fundamental. E só há efetivamente diálogo quando há respeito mútuo. Quando o vovô e a vovó são convidados a se recolherem na edícula e dali apenas contemplarem a casa reformada e o mundo lá fora, estamos sucumbindo a uma dinâmica econômica voltada para a formação de novos contingentes de produção e consumo sob a égide de preocupação com a infância e a juventude, o que desvaloriza os que, pela maturidade alcançada por suas consciências já não sucumbem aos apelos consumistas e, pela força de trabalho já emprestada ao contínuo processo de produção, conquistaram o direito a um ritmo existencial adequado a melhor fruir do que foi edificado com o concurso de seus esforços.
Se o desenvolvimentismo econômico aponta obstinadamente para a formação de novas gerações aptas a produzir melhor e consumir mais, o desenvolvimento real e integral, que só se realiza em dimensão comunal, nos cobra olhar para a importância da intergeracionalidade da estrutura familiar.
É esse nosso modesto convite à reflexão sobre termos que encerram conceitos e podem vir, por descuido, a favorecer preconceitos.
Independente do conteúdo do artigo que comentei, o que quero trazer à luz para apreciação pelos leitores é o que digo nesse comentário, é o alerta que quero fazer para reagirmos, enquanto é tempo, em defesa de um segmento populacional ameaçado de sobrevivência: nós todos.
Sim, isso mesmo: nós todos. Nós todos que, por critérios censitários, nos classificamos em crianças, pré-adolescentes, adolescentes, adultos jovens, adultos maduros e idosos; mas que, na verdade, somos apenas dois tipos de pessoas: idosos e futuros idosos.

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