A pior capital do Brasil com o pior hospital do Brasil: é outubro chegando

Publicada em 

15 de julho de 2024

às

17h51

Uma das coisas que mais gosto na profissão que abracei há quarenta anos é o surto de amor à verdade que explode a cada período eleitoral. Coisas que pareciam devidamente deglutidas – quando muito, em processo de ruminação – são repentinamente vomitadas pela mídia com a justa exposição do asco que provocam. É nojento? É. Mas não é nojento apenas o fato que pauta a notícia, porém o próprio ato de dispor-se a pautar a notícia em momento pré-eleitoral. De qualquer forma, parabéns aos denunciantes e parabéns ao colega repórter que expõe seu rosto com civismo, mesmo sabendo que, dependendo do que tudo nesta vida material depende, poderá ter que o expor novamente em reportagem com direcionamento de intenções diametralmente oposto.
Como cidadãos, queremos o melhor para estas paragens do poente em que decidimos viver. E é no mínimo frustrante ter que admitir que a cidade que tanto amamos é não apenas a pior capital do Brasil, mas conta também com o pior hospital do Brasil. São dois títulos que ninguém quer e, em verdade, reluta para admitir. Até porque os critérios utilizados para atribuí-los não são expostos nas peças midiáticas que os atribuem e exaltam. Nem tampouco há o zelo de ressalvar no título, no caso do “pior hospital do Brasil”, que a avaliação tem por base a infraestrutura – ou ausência de – e que há uma equipe de médicos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais que, com um denodo que beira o heroísmo, faz o atendimento acontecer, ainda que aliado à sorte de alguns pacientes.
Então, por favor, em outras peças jornalísticas desse estilo que deverá dominar os próximos meses, tenham o cuidado de elaborar melhor os títulos, ainda que conservando o sensacionalismo que ergue audiências. Por exemplo: “Heróis da resistência: trabalhadores da saúde ainda conseguem salvar vidas no hospital com pior infraestrutura do Brasil.” Fica a sugestão. E é a única que dou de graça. Afinal, ainda me encontro em um corpo físico. E também dependo do que todos dependem para sorrir. Sem hipocrisias, por favor. Lembrando que fazer denúncias do que fere o interesse público é minha especialidade há anos. E já paguei um preço bem caro por isso. Mas com uma diferença: faço-o sempre, por compromisso social e também nas entressafras; e não de biênio em biênio. E é aí que acho que reside a grande diferença entre ética e puritanismo pueril.

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