O problema talvez não esteja na absoluta ausência de uma política estruturada e que efetivamente dialogue com a sociedade no seu todo, considerando as especificidades de cada segmento. Mas, sim, na ausência de conjugação de esforços entre as esferas de governo e – pior! – desprezo tácito à produção e à formação acadêmicas disponíveis. Se livre de clichês e de “descobertas” e reinvenções de algumas potencialidades notórias, Rondônia poderá, sim, caminhar efetivamente para a consolidação de alguns destinos turísticos em seu território.
Desenvolver turismo em Rondônia é sem dúvida um desafio. Mas, para começo de conversa, é preciso pensar a atração de visitantes de forma não caleidoscópica. O turismo só se consolida quando o visitante volta. E quando recomenda o destino a outros visitantes. E isso motivado pelo gosto pelas coisas boas da vida, não por masoquismo. Euclides da Cunha, em sua obra Amazônia: o paraíso perdido, foi sucinto: “em poucas horas o observador cede às fadigas de monotonia inaturável”. De fato, a paisagem natural amazônica é algo meio insosso. Água, água, água… verde, verde, verde… excesso de horizonte e um pôr do sol que alguns definem como “fantástico”, como se o sol não se pusesse em outras regiões do planeta.
Qualquer pessoa com um mínimo de visão percebe que o turismo não se limita – e jamais poderia se limitar – à contemplação animista de manifestações da natureza. Mas muitos gestores públicos em Rondônia ainda insistem em acreditar que seja possível motivar alguém a deslocar-se por milhares de quilômetros para ver água, pedra, flora e, se der sorte, algumas espécies da fauna além de mosquitos.
Já no ensino básico – quem o concluiu sabe do que estamos falando – aprendemos que o homem é um ser gregário, o homem é atraído por outros seres humanos. E, numa dimensão mais ampla e difusa, o homem se interessa pela humanidade. Assim, todos os destinos turísticos consolidados no mercado têm um elemento comum: o humano. Por vezes o próprio grupo de turistas, como ocorre com a pesca esportiva. E isso implica infraestrutura. E quem faz infraestrutura é o homem. Ainda não conseguiram treinar macacos para atuarem na hotelaria.
Até mesmo no paradisíaco Taiti, a beleza do mar plácido se torna mais sedutora e atrativa pela presença de construções humanas, ainda que rústicas, no meião da água. Mas em Rondônia ainda se insiste na crença de que as pessoas venham olhar apenas a água, as pedras, os pássaros… quando muito, os peixes.
Falamos aqui da paisagem natural. A ela podemos, grosso modo, contrapor outras duas paisagens: a rural (abrangendo as comunidades extrativistas ribeirinhas) e a urbana. E é aí que o desastre se torna maior. Comunidades rurais querendo ser urbe; e adensamentos legalmente conceituados como cidades querendo exaltar um espírito urbanoide, sem efetivamente o ter. Ainda pior quando, em vez de buscar o ideal da urbe, aposta-se em grupos exaltando uma identidade “beiradeira” que nunca tiveram. Cada um no seu quadrado ainda é a melhor fórmula para se levar a cada quadrado quem queira ver cada um.
Acredito que o leitor que chegou até esta altura do texto seja suficientemente inteligente para já ter percebido que somente a partir do Município, esfera de governo mais próxima das identidades comunais, é que se pode pensar em desenvolver o turismo. Devendo, portanto, o Estado e a União se concentrarem – e trabalharem, é claro – no que de fato lhes compete: a facilitação da atividade turística e mesmo o estímulo a ela por meio da propaganda. Jamais empreender diretamente o atrativo turístico, mas apenas contribuir para fortalecê-lo de forma sustentável e harmônica com a dinâmica social e econômica das coletividades.
A maneira como seguidos governos de Rondônia têm tratado a área do turismo tem se caracterizado, infelizmente, na preferência em confiar sua gestão a pessoas absolutamente sem formação ou com formação diversa, em detrimento, principalmente, dos muitos profissionais formados em faculdades locais, ou que, tendo adquirido formação em outras terras, fizeram opção por exercer sua atividade nestas paragens do poente. Já é hora de uma nova linha de gestão ser adotada, sob pena de Rondônia definitivamente ficar para trás em um contexto que, onde há gestão inteligente, só tende a evoluir.
